sexta-feira, 29 de abril de 2011
Uma poesia para a mulher de Praia Grande (a que pôs a filha na caçamba de lixo)
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Na poesia o homem adquire a consciência de ser algo mais que passagem.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
Pílulas de Poesia
As 3 flô de Puxinanã (Puxinanã é uma cidade da Paraíba, perto de Campina Grande)
Zé da Luz
Três muié , três irmã
Três cachorra da molesta
Que eu vi num dia de festa
Num lugá Puxinanã
A mais véia, a mais ribusta
Era mesmo uma tentação
Mimosa flor do sertão
Que o povo chamava Augusta.
A do meio, a Guilhermina
Tinha uns ói que ô mardição
Matava qualquer cristão
Os oiá dessa menina
Os ói dela parecia
Duas estrela se tremendo
Se apagando e se acendendo
Em noite de ventania
A terceira era a Maroca
Tinha um corpo muito mar feito
Mas porém tinha nos peito
Dois cuscuz de mandioca
Dois cuscuz que por capricho
Quando ela passou por eu
Minhas venta se acendeu
Com o cheiro vindo dos bicho
Eu inté me trapaiava
Sem saber das 3 irmã
Que eu vi em Puxinanã
Qual era a que me agradava
Iscuiendo a minha cruz
Para sair desse imbaraço
Desejei morrer nos braço
Da dona dos dois cuscuz.
domingo, 24 de abril de 2011
Para mim, vida é o que acontece na minha alma enquanto eu escrevo. E escoa.
sábado, 23 de abril de 2011
Zorba e o machismo latino
“Escrevo para me livrar da emoção” (TS Elliot).
Tenho por hábito, quase religioso, revisitar os clássicos. E foi assim que reencontrei “Zorba, o grego”. Os críticos o definem como uma parábola sobre a força da amizade. Mas o que eu vejo nesse filme é outra coisa. A história da bela e improvável amizade entre um rico escritor inglês e seu empregado camponês que decidem dançar juntos na praia me deixou desconfortável. A cena da dança é linda e estranhamente vem depois de eles praticamente causarem a morte por apedrejamento de uma mulher e se arruinarem financeiramente. Eu chorei muito. Não pela poesia da dança, nem pela morte, nem pela empatia com a bancarrota dos protagonistas. Chorei porque não perdi de vista o fato de eu ser uma mulher.
Zorba (um inesquecível Anthony Quinn), infelizmente, abre a boca, em close, para falar das mulheres. Diz que as ama “porque elas são pobres e fracas criaturas… uma mão no seio e elas lhe dão tudo que têm.” Obviamente o grifo das palavras é meu, como se fosse necessário enfatizar o teor do que foi dito e mostrar o caminho do meu inevitável sentimento de desconforto.
Luiz Fernando Veríssimo, na crônica “Homem que é homem”*, fala que existe “um componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino”. Concordo plenamente, mas completaria: é necessário afirmar que toda misoginia é, por si só, uma maluquice. Um absurdo que dispensa qualquer adjetivo negativo que o desqualifique. Claro que Veríssimo colocou assim à guisa de mote para a sua criação ficcional.
Veríssimo não ofende. Diverte. Mas o filme, do qual também sou fã, além da frase emblemática do protagonista, tem ainda outro viés misógino: as personagens femininas são tratadas com evidente desimportância e superficialidade. A prostituta francesa decadente sem nenhum senso de nada. A frágil e sexy viúva da aldeia… Ambas dignas apenas de pena. Pior é pensar que isso não é totalmente ficção. Nem essas mulheres, nem o apedrejamento, nem as palavras de Alexis Zorba. Elas não são a voz do escritor. É uma fala verdadeira, que cabe à personagem.
Vi vários críticos falarem de “Zorba”, mas nenhum era mulher. Nenhum falava de misoginia. Poucos apenas resvalavam no assunto do machismo no filme. Que Zorba tem essa latinidade machista à qual Veríssimo se referia é evidente. Que as mulheres do filme são fracas e vazias, inegável. Mas isso infelizmente é apenas um retrato de uma realidade que mistura anacronismo com contemporaneidade. Tão surreal que até parece pura ficção.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Leitura pela fechadura
Adoro ler, então resolvi escrever sobre o que se diz do ato de ler. Não aquele discurso correto, mas manjado, tipo conselho paterno ou cobrança de professor. Quis saber das outras falas, dos outros benefícios. Quis enxergar do farol e pela fechadura. E achei umas pérolas.
Ler faz bem ao coração. Você sabia? Pois é, um pesquisador britânico comprovou que ler por 10 minutos diminui os batimentos cardíacos e reduz o estresse. Verdade científica. Se alguém duvida, saiba que os resultados dessa pesquisa podem ser facilmente replicados, e em seu benefício, na sua cama: deite-se confortavelmente sobre um travesseiro volumoso, pegue um bom livro (dê preferência aos meus- risos), ajuste a luz e vá. Se deixe levar e verá o milagre.
Ler, logicamente, faz bem ao cérebro. Mas veja que diferente. Claro, teses já foram escritas sobre a função pedagógica, social e terapêutica da leitura. Também é inegável o papel relevante do nível de letramento na função cognitiva e até na prevenção do Alzheimer. Afinal já dizia Darwin: o que você usa desenvolve e o que você não usa atrofia. Mas afirmar que um determinado livro de ficção pode ajudar efetivamente no tratamento de neuroses parece uma velha novidade: faz todo sentido. Prescrever um determinado livro com o intuito de favorecer a recuperação de eventos como perder o emprego, romper com o namorado ou perder um parente é a proposta da Biblioterapia, que alia psicólogos e bibliotecários em torno das mazelas do sofrimento humano. É que a ficção desvia a atenção e alivia o “eu” da pessoa que se entrega, identificada com a personagem. Assim sendo, textos didáticos, informativos e de auto-ajuda não são considerados biblioterapêuticos, na medida que não permitem essa vivência de tensão irreal, explosão do conflito e catarse. Um alívio para o meu bom senso que já intuía isso há tempos.
Ler até ajuda a ser feliz. E esse é o foco. Da busca pela magreza ao esnobismo intelectual, tudo se resume a tentar ser feliz. E para isso, é preciso primeira e ordinariamente estar presente no momento, no agora. Mas todo mundo já passou por fases em que ficamos sempre em qualquer lugar, menos onde estamos, ou em qualquer outro tempo, exceto no já. Estamos com os filhos pensando que precisamos de mais tempo com o marido, estamos com o marido com culpa porque deveríamos ter dado mais atenção às crianças, estamos no trabalho pensando nas férias e assim por diante . O caso é que fugir do agora é a verdadeira receita para o estresse e para a infelicidade, porque a vida é isso aqui e os problemas só são resolvidos no tic-tac do relógio. Um segundo por vez. A pessoa (que nunca está onde está) costuma estar presa nos seus próprios pensamentos, repetitivos, estéreis. Geralmente critica e racionaliza demais, tudo. “ Ele disse isso, querendo dizer aquilo e fez isso porque...” Não! Não pense demais: para a gente se encontrar é preciso se afastar um pouco, neste caso sair de dentro de nós mesmos. Embarcar no enredo de uma boa história ou num pacote de palavras escolhidas a dedo nos leva para longe. Um bom livro é capaz de nos afastar terapeuticamente e sem efeitos colaterais dos pensamentos que nos atravancam. Isso faz a gente poder voltar com mais energia para nós mesmos, como um elástico tencionado na direção certa. A da felicidade.
Em resumo, meus amigos, ler é quase uma panaceia. Então posso prescrever leitura, uma vez ao dia, ao deitar, certa dos benefícios para pacientes e impacientes. É interessante poder enxergar a literatura como uma bicicleta ergométrica distraindo e oxigenando o cérebro, promovendo um melhor ajuste do nosso foco, nos levando aos trilhos que vão dar a volta por cima. Ou como uma massagem de espírito: ler gostoso na cama ajuda a dormir melhor, relaxar a mente e o corpo e ficar menos ansiosa. Menos propensa a atacar uma caixa de bombons de chocolate. Uma conclusão super in: ler pode lhe deixar magra! Risos Rir também faz um bem danado, mas isso já é outra história.