José de Alencar, sobre a literatura:

"Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que surgem no espírito do idiota inspirado".
Benção Paterna, 1872 - tem coisas que não mudam.




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Imagine!



Imagine!

Eu estava lendo o Estadão de domindo (4/9/11) e pensei: Imagine os sumérios tendo que parar de desenhar sua impecável caligrafia nos tablets (de argila, claro!). E os escribas egípcios, tendo que largar mão de escrever no papiro?

Segundo o jornal, uma pesquisa realizada no Colégio Humboldt com 241 estudantes e mais alunos do Dante e de outras escolas concluiu que quase todos os adolescentes têm tablets (não de argila, claro!) e lêem e-books, mas ainda preferem livros de papel. Júlia, de 15 anos, completa: “tenho prazer em ver a prateleira cheia de livros”.

Entendo, Júlia, me identifico totalmente. Mas acho que somos a excessão. Hoje e no futuro esse desejo de “estante” se tornará completamente extinto, tão difícil de entender quanto o desejo de Cleópatra que era guardar “O Livro dos Mortos” em rolos de papiro, imagino.

Sou escritora. Gosto de pensar que produzo literatura e não livros, assim como um músico produz música e não CDs ou discos de vinil.

Mas a evolução/revolução na tecnologia do lápis e papel já começou e é inevitável. Ou continua. Johannes Gutenberg, por volta de 1439, inventou a prensa móvel (um protótipo da tecnologia moderna de impressão de livros). Imagine o escarcéu que causou entre os monges que passavam as suas vidas enclausurados nos mosteiros copiando livros! Eles imprimiam com sua letra rebuscada uma personalidade única aos escritos. Isso sim cai bem no conceito de fim do livro objeto.

Mas o passado deve ser conhecido para trazer luz ao presente e para diminuir o nosso saudosismo e sensação de iminência do apocalipse: o fim do livro, o fim dos leitores “de qualidade” e todas sorte de aberrações medievais que circulam na modernidade.

A verdade é simples e crua: a tecnologia vai resolver a questão da deterioração do livro eletrônico, da documentalização, da acomodação do aparelho visual `a tela durante a leitura... Tudo.

Certeza.

Nós, uma das últimas “gerações de papel” morreremos e as pessoas vão esquecer os livros como esqueceram os compact disks, as fitas K7, as tábuas de argila e os papiros. Inexorável.

5 comentários:

Lourdes Ferraz disse...

Adorei Nina conhecer o blog.Quero ter sempre o prazer de conhecer seus escritos.Acho ótimo o avanço tecnológico, mas quero que sempre tenha os livros impressos para uma aproximação tátil típica do leitor que deixa marcas de sua passagem pelas palavras.Eu grifo os livros bons(há quem ache muito feio isso)claro sendo meu.E mais tarde(passados até anos) faço uma releitura compreendendo meu emocional ao passar por ali.Assim foi quando li AMOR DE PERDIÇÃO na adolescência.Livro impresso tem importância como os albuns de fotos.Ah! os albuns!Hoje podemos ter mil registros fotograficos mas muitas cenas registradas se perderão em arquivos...que os albuns passavam de geração para geração aquela história.
Que muitas bienais venham pela frente e muitos escritos reproduzindo ensinamentos,vivências,ajuda.Somados aos Blogs cheios de coisas preciosas e rápidas para tomarmos de perto e aproveitarmos a expressão de tantos que bem escreve ou simplesmente se expressa,que é maravilha cultural e exercicio de doação.Que tudo vá somando,acrescentando.Bj grata

IZILDA disse...

Concordo inteiramente com você, Nina, mas não sem um aperto no peito. Normalmente, não sou da ala conservadora e aprecio muito as novas tecnologias. Porém, quando se trata da extinção do livro de papel, é muito difícil aceitar. Faço assumidamente parte da resistência, até quando eu própria cair por terra! hahaha
Amei seu blog, Nina.
Parabéns!

Hommerding disse...

Cara Nina, parabens pelo seu blog, estarei por aqui com frequencia... Muito bem colocado o seu texto. Do ponto de vista da informacao, a invencao da prensa trouxe uma revolucao no compartilhamento da mesma, que acabava ficando cerrada nos monasterios e restrita aos "filososfos e estudiosos da epoca". A partir dai, vieram as revolucoes e a partir da WWW as reinvencoes. O livro tem seu lugar garantido, eu confio nisso. A pintura teve que se renovar e mudar de varias formas, a partir de cada movimento e tecnicas surgidas. Quando do surgimento da TV, acharam que o Teatro estava morto e ele teve que se renovar. Para a tecnologia, eu creio que o livro seja o enigma, afinal de onde veio a tecnologia? P.S. ja que mencionou a Cleopatra, qual mulher nao admira esta DEUSA, acredita-se que ela tenha sido a primeira mulher a escrever um livro sobre dicas e tecnicas de beleza, alem de inteligente a danada era uma genia!

Giovanna Vilela disse...

Muito bom! Pense no lado bom de tudo isso, seremos sempre lembradas como a última geração a criar literatura em livros. Seja lá para onde for o caminho da escrita que tanto amamos, o que importa, Nina querida, é que vamos juntas!

Fila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.