O que Mallarmé, Proust, Brecht e Barthes tem em comum?
A escrita surrealista descendente da poética de
Mallarmé contribuiu para dessacralizar a figura do autor, através da proposição da destruição do sentido, da revolução da lógica, da subversão da sintaxe ou ainda, e principalmente, da construção automática e/ou coletiva do texto.
Brecht, também participa desse movimento de apagamento do autor, através do seu conceito de "gestus" e seu objetivo de deixar a sua escritura ter o seu significado necessariamente completado pelo ator/performer e pelo público.
Segundo Barthes, quando
Proust, em "Em busca do tempo perdido", nos oferece uma narrativa `as avessas de um livro que ainda vai ser escrito, ele nos instiga a pensar que Charlus não é uma personagem inspirada em Montesquieu, e sim que Montesquieu é um fragmento secundário derivado de Charlus; que a vida imita a arte. Proust não faz a sua obra da sua vida, mas faz da própria vida uma obra.
Barthes em seu texto "A morte do autor", afirma que o autor não nos entrega a sua confidência num livro. Claro! Eu sinto que o autor escreve sobre seus monstros, mas, sem dúvida, pensar que o que está na página é apenas um recado pessoal do autor ou um fragmento da sua realidade, certamente diminui seu valor.
Eu já escrevi sobre princesas, homossexuais, heróis e loucos... acho que escrever só é possível para quem sente, mas sentir não é ter visto ou vivido.
Sem dúvida, a obra de
Proust (como também a de
Caio Fernando Abreu, por exemplo) é permeada de sua homossexualidade; a obra de
Van Gogh é permeada de sua loucura; as obras de
Borges e
Guimarães são povoadas pelas pessoas e cenários da vida de seus autores; a obra de
Kafka é contaminada pela figura paterna opressiva. Mas a literatura vai muito muito mais além.
Quando a gente resume um texto, tira dele a sua literatura, pois o literário some onde há pressa por entendimento. Quando nós analisamos um viés de compreensão de um texto parece que estamos tirando dele sua ambiguidade e literariedade. Mas para quem gosta de estudar uma obra literária são imperdoáveis o excesso de certezas, a falta de humildade e a falta de múltipla perspectiva.
Mas e o escritor/ autor? Como escritora, sempre fico dentro de mim, numa vã filosofia, buscando os tanques e as borboletas que movem a minha suposta literatura.