José de Alencar, sobre a literatura:

"Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que surgem no espírito do idiota inspirado".
Benção Paterna, 1872 - tem coisas que não mudam.




terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pensar faz mal - Crônica escrita para a Revista Amauri.


Por Nina Ferraz

Saúde não é a ausência de doença, é sentir-se bem. Esse simples conceito pode nos dar instrumentos para enfrentar e resolver a maioria dos problemas do dia a dia. De fato, não importa como efetivamente o mundo é, importa mesmo como ele é percebido. Então a frase “Mente sã em corpo são” adquire um novo significado. O pensamento passa a ser visto como um instrumento. Mas como saber se o pensamento é a ferramenta para resolver o problema ou se ele é o problema?

Para achar a saída para as nossas dificuldades é preciso pensar, claro. Porém frequentemente, mais frequentemente do que se imagina, a solução é simplesmente parar de pensar. Relembrar fatos para conhecer a si mesmo e para considerar riscos futuros é importante para o planejamento da vida. Revisitar o passado com esse intuito é saudável. A pessoa olha para trás, coleta suas experiências e toma decisões.

No lado oposto, está o pensamento estéril. Quando o pensamento é circular, repetitivo, fica ali na cabeça incomodando sem ser percebido ou reaparece sem ser convidado, pode ter certeza: esse pensamento é negativo e deve ser evitado. Esse tipo de pensamento não é uma reflexão positiva e ordenada, geralmente age como um mantra inconsciente, que assombra a pessoa, atrapalha o sono, altera o apetite, depleta a energia e reduz a capacidade de concentração.

É biológico. O cérebro reage a tudo que lhe é dado. Por isso eleger coisas boas para pensar é fundamental. Se concentrar em boas lembranças, pelo menos uma vez ao dia, traz um bem estar imediato. Meditar também é muito bom. E meditar significa não pensar, esvaziar o cérebro, reduzir o barulho interior. É como dar repouso aos nervos.

Ao contrário, remoer experiências negativas mergulha o sujeito numa química cerebral que faz tudo no horizonte aparecer em preto e branco. Ficar lembrando uma coisa triste, não resolve o que passou e, faz o pior, aprisiona o cérebro exatamente dentro desta experiência. Cada vez que é revisitada, a simples memória faz despejar hormônios e uma química cerebral que resulta em tristeza, depressão ou pessimismo. Afinal relembrar é como reviver.

A pergunta fascinante é: o que é a verdade, então? Uma elaboração humana? Uma interpretação? Sim. Isso é o que nos faz humanos: a avaliação da circunstância é mais importante do que o fato em si. Um copo, ele pode estar meio cheio ou meio vazio. Aquela pessoa que está ali, ela ainda não foi ou decidiu ficar mais um pouco. Em ambos os casos a realidade é a mesma: a quantidade de água no copo ou o fato de a pessoa estar ali. Diante da ausência ou indelicadeza de alguém, uma pessoa nem percebe e a outra vai ter mais assunto no analista.

Em outras palavras, a verdade não existe por si só, ela é fruto da nossa análise, da análise dos outros e dos dogmas do meio em que vivemos. Assim, controlar o que pensamos é um grande começo. Elaborar e usar uma lista de “lembranças que curam” e aprender a reconhecer e evitar os pensamentos negativos pode ser a chave mais segura para o equilíbrio e para o bem estar físico e mental.

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