José de Alencar, sobre a literatura:

"Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que surgem no espírito do idiota inspirado".
Benção Paterna, 1872 - tem coisas que não mudam.




sábado, 10 de setembro de 2011

Imagine! 2 - continuação da crônica sobre a história do livro


Imagine!

Imagine quando a fotografia surgiu e o mundo ficou aterrorizado com medo da pintura se acabar. Imagine que o cinema já foi considerado o fim do teatro. E a TV seria o fim do cinema.
Nada disso aconteceu, obviamente,
mas essas expressões da arte são linguagens diferentes e não apenas veículos. Um exemplo claro de veículo é o vídeo: as fitas imensas foram substituídas por fitinhas minúsculas e depois pelo DVD, e hoje já se baixa um filme direto da TV ou da internet sem nenhum veículo palpável.

O livro é um veículo. Vai se acabar.

A literatura quando surgiu era de transmissão oral. Os aedos e rapsodos gregos invocavam as musas e recitavam tudo de memória. Sem necessidade de veículo algum. Nos menestréis, trovadores medievais, violeiros e contadores de história - a poesia e a música se misturam. Antigamente mesmo as narrativas eram rimadas, para se "cantar" louvores aos heróis. Para mim, poesia é para ser dividida, para ser lida em voz alta, cantada.

A fala é o principal instrumento. Literatura é ideia e emoção, arte para interagir na praça. Mesmo depois de surgir o livro (o objeto), muitas pessoas mantinham o hábito de fazer leituras em grupo, de lerem uns para os outros. De recitar. E acho que esse interesse está voltando. Que a literatura vai deixar de ser somente um deleite solitário, para ser também um prazer comunitário. E já é. Na cidade de São Paulo (dita a mais fria e objetiva do país) os saraus e os grupos de leituras se multiplicam como insetos num mundo subterrâneo. E as placas tectônicas estão sempre em movimento.

E assim, no mundo flutuante das ideias, muita coisa muda e outras são imutáveis. Hoje a gente vive o tempo do "vale o escrito" (ou nem isso), mas nem sempre foi assim. Embora a escrita já tivesse sido inventada, o filósofo grego Sócrates não deixou nada escrito de sua autoria. Até Platão via a escrita com desconfiança, ele só acreditava no diálogo como instrumento para criar e transmitir informação. Então o novo incomoda atá as mentes mais brilhantes.

O lance é que algo novo hoje aparece a cada segundo. E essa mobilidade da realidade pode ser assustadora. Estamos diante de séculos de conhecimento e arte, de medos eternos e certezas passageiras e de muita tecnologia nova. Mas o veículo não importa. Como Platão e Sócrates, para participar do mundo das ideias, só temos mesmo nossas vozes e o diálogo.

5 comentários:

Rogério Salles disse...

Eita, Nina! Que coincidência deliciosa nossos posts, rs...indo em sentidos deferentes de opiniões, entretanto falando sobre literatura e, o melhor, a linguagem humana. No real, oq ue importa, é isto. A expressão humana enquanto fala e escrita. Minha crença no não desaparecimento do livro está no que já existiu até hoje. a escrita em folhas de papel, papiros ou similares é eterna. Deixar resgistrado em tão simples instrumento uma mensagem ou uma história faz com que ela não desaparece, mesmo em uma hecatombe. Adoro essa tecnologia toda, mas, para mim, ela é de extrema mutação, enquanto nosso bom e elho livro impresso está acima de todas as transformações que os periféricos de leitura sofrem. Obrigado pela visita no Vide Letra e parabéns pelo seu blog genial. Bjo!

Fila disse...

Nina, me confundi e postei o meu comentário no Imagine1 - não faz mal é tudo imagine mesmo! bj

Fila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fila disse...

Eu ainda acho que o livro não será extinto. E torço por isso porque, afinal, o livro como veículo de informação é também uma obra de arte - o papel do papel será preservado no livro.
Quando vi a sua referência à FITA K7 lembrei ter mostrado aos meus filhos algumas fitask7 que eu havia encontrado.A minha neta, que tem 11 anos, virou para a mãe e entre curiosa e perplexa perguntou: "O que é isso?".
Precisava ver o espanto na cara dela...
Eu tenho muitos LPs de vinil que ela já valoriza. O pai dela curte e vejo ela interessada em saber sobre a história do vinil. Acho salutar a evolução no sentido do aperfeiçoamento e reverenciar o passado é compreender sua magnitude no presente. Não é que eu "supervalorize" o passado, é que o brilho do presente passou por luzes de candeeiro no seu caminhar. E a beleza do candeeiro está em ser tosco e rudimentar. bj

Espaço do João disse...

Li sua mensagem, gostei e, passarei a segui-la.
O livro, por muito que se queira, jamais será extinto ( penso eu ). Desde que os escribas começaram, muita água tem corrido debaixo das ponte, mas o livro está sempre ao de cima. Realmente aqui há 50 anos atrás, ninguém falava em computadores mas, mesmo com a digitalização ele não está fora de campo. Ainda é a forma mais segura de preservar o pensamento do homem.
Vieram os gravadores, as fitas magnéticas,os discos de porcelana, os de vinil, os computadores, mas mesmo assim, continuamos a ensinar e continuaremos , através dos livros.
Embora a vida seja uma sucessão sucessiva de sucessos sucessivamente sucedidos, serão esses sucessos transcritos sempre através dos livros. Cabe-nos a nós preservá-los e ama-los com a nós mesmos.
Volte sempre. Gosto de seus textos.