Vênus ou Afrodite é a deusa grega do amor, que todos nós conhecemos. Um dos mitos diz que ela nasceu do sêmem de Urano (pai dos Titãs), após Cronos (deus do tempo) cortar os seus testículos e jogá-los no mar. Daí a pintura da mulher linda emergindo das águas ou, como ao lado, em cima de uma concha.
A visão de Rimbaud é bem diferente: ele descreve uma protituta saindo de uma banheira. Aproxima o sublime do grotesco de forma surpreendente e original.
Copiei esse poema do blog do Antônio Cícero, primeiro vai a versão em Português e depois em Francês.
Vênus Anadiômene
Qual de um verde caixão de zinco, uma cabeça
Morena de mulher, cabelos emplastados,
Surge de uma banheira antiga, vaga e avessa,
Com déficits que estão a custo retocados.
Brota após grossa e gorda a nuca, as omoplatas
Anchas; o dorso curto ora sobe ora desce;
Depois a redondez do lombo é que aparece;
A banha sob a carne espraia em placas chatas;
A espinha é um tanto rósea, e o todo tem um ar
Horrendo estranhamente; há, no mais, que notar
Pormenores que são de examinar-se à lupa...
Nas nádegas gravou dois nomes: Clara Vênus;
-- E o corpo inteiro agita e estende a ampla garupa
Com a bela hediondez de uma úlcera no ânus.
Venus Anadyomène - em francês
Comme d’un cercueil vert en fer blanc, une tête
De femme à cheveux bruns fortement pommadés
D’une vieille baignoire émerge, lente et bête,
Avec des déficits assez mal ravaudés;
Puis le col gras et gris, les larges omoplates
Qui saillent; le dos court qui rentre et qui ressort;
Puis les rondeurs des reins semblent prendre l’essor;
La graisse sous la peau paraît en feuilles plates:
L’échine est un peu rouge, et le tout sent un goût
Horrible étrangement; on remarque surtout
Des singularités qu’il faut voir à la loupe…
Les reins portent deux mots gravés: CLARA VENUS;
—Et tout ce corps remue et tend sa large croupe
Belle hideusement d’un ulcère à l’anus.
De:
O nascimento de Vênus, de William-Adolphe Bouguereau. Copiado de Wikipedia.
RIMBAUD, Arthur. Poesia completa. Edição biligue. tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994.
Obs.: A edição citada conta com excelentes notas explicativas.
POSTED BY ANTONIO CICERO AT 00:16
LABELS: IVO BARROSO, POEMA, RIMBAUD
2 comentários:
Excelente...
http://poesiasciberneticas.blogspot.com/2011/07/o-oraculo-de-rimbaud.html
Rimbaud é surpreendente!
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